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Guilherme
Guilherme é Engenheiro Ambiental formado pela Escola de Engenharia de Piracicaba e Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo. Um dos ganhadores do Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia - Ano 2008, se dedica atualmente à pesquisa e desenvolvimento de Reatores Biológicos que convertem resíduos (potenciais fontes de poluição industrial e doméstica) em energia renovável sob a forma do gás hidrogênio, uma fonte energética que não gera gases do efeito estufa. http://www.facebook.com/guilherme.septimus
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sexta-feira, 15 de março de 2013

Sobre o Dia Internacional das Mulheres

Uma data como esta, surgida na luta por igualdade, tem que ser devidamente valorizada, principalmente quando protagonizada pela “classe” feminina, vítima de milenar opressão em muitas culturas. 

É pena que nesses tempos um dia tão significativo seja obscurecido pela lógica de mercado, e a reflexão sobre o contexto e contribuição das mulheres em nossa sociedade tenha dado lugar a chocolates e buquês...quase totalmente despropositados. Não sou contra a cortesia e refinada gentileza de presentear as mulheres, mas penso que merecem algo melhor do que isso. Aposto no reconhecimento e valorização.

Concepção artística da filósofa, matemática e astrônoma Hypatia. 

Nasci num tempo no qual a sociedade ocidental já havia consolidado ao menos os direitos políticos das mulheres e, em alguns casos, o processo de reconhecimento de seu papel e importância já se delineava. Por esse motivo nunca imaginei que fosse possível subjugar um ser humano baseado em sexismo ou mesmo crer numa relação desproporcional de poder entre homens e mulheres. Contudo, me parece que essa percepção é um tanto quanto particular, uma vez que nos quatro cantos de nossa sociedade muitas histórias de desrespeito e violência ainda são frequentemente reportadas.

Historicamente são inúmeros os eventos que comprovam a estreita relação entre o desrespeito ao ser humano e o grau de atraso de uma sociedade. Entre esses, o mais emblemático parece ser o caso de Hypatia.
 
Segundo os registros do antigo Egito, houve em Alexandria uma mulher chamada Hypatia (370-415 DC), a primeira a transitar pelos domínios estritamente masculinos da matemática, filosofia e astronomia. 
Primeiramente, o que fez de Hypatia uma mulher excepcional, foi o acesso a um elevado grau de educação, o que era impensável numa época em que a mulher era considerada meramente uma propriedade. 
 
Somando seu talento à “ousadia”, Hypatia tornou-se mestre da Escola de Filosofia Neoplatônica, sediada na Biblioteca de Alexandria, o maior e mais completo centro de ciência e aprendizado do mundo antigo. Nesse local se acumulavam séculos das mais preciosas obras intelectuais de toda a humanidade. Trabalhando nesta biblioteca, Erathostenes tinha calculado a circunferência da Terra e proposto que era circunavegável enquanto Hyparchus antecipava que as estrelas se moviam lentamente na escala de tempo de alguns séculos, sendo o Sol apenas uma delas e que, eventualmente, essas estrelas deixavam de existir.
 

Representação dos complexos da Biblioteca de Alexandria (40 AC). 

A despeito da escravidão e da opressão religiosa, os grandes males da época em Alexandria, Hypatia continuava a ensinar e publicar seus estudos. Dentre esses trabalhos, tratados filosóficos nos quais a liberdade de pensamento era exaltada como o primeiro passo para o avanço científico. Ademais, supõe-se que Hypatia tenha contribuído em obras como os Elementos Euclidianos e as Tabelas de Ptolomeu, entre outras.

Por transitar “livre”, pelo seu amor a ciência e divulgação de seus estudos, Hypatia logo se tornou o foco de um conflito entre os maiores poderes de Alexandria; Orestes, o governador romano que lhe tinha simpatia e Ciryl, o bispo que a desprezava. 

Um dia, quando saía da Biblioteca de Alexandria em sua carruagem, Hypatia foi atacada e assassinada por seguidores de Ciryl. Suas obras foram queimadas e seu nome apagado dos registros da Biblioteca. 

Inquiridos por Orestes, os seguidores de Ciryl afirmaram ter agido sob o pretexto de erradicação da influência pagã e cessação do conflito entre as autoridades. Mais tarde, Ciryl foi feito santo pela igreja, enquanto Hypatia, a “pagã”, teve sua existência e suas obras obliteradas…


Hypatia foi, de fato, a última cientista a trabalhar na Biblioteca de Alexandria. Cerca de um ano após sua morte (416 D.C), o restante da Biblioteca foi destruído, e com ela o conhecimento de séculos, o que definitivamente contribuiu para que nossa civilização mergulhasse na escuridão da ignorância por mais de mil anos. 

Foi somente em 1492 com Cristóvão Colombo empreendendo as grandes viagens marítimas que foi redescoberto que a Terra era circunavegável e medidas de sua circunferência foram novamente realizadas. A humanidade também esperou até o ano de 1519 para que Nicolau Copérnico propusesse e validasse o sistema heliocêntrico, ou seja, com a Terra orbitando o Sol, e não o contrário. Nada além de uma, e apenas uma, das observações feitas por Hyparchus há mil anos atrás, e que havia se perdido com a destruição da Biblioteca de Alexandria.
 
Atualmente, as últimas ruínas da Biblioteca de Alexandria.

Esse colossal exemplo de desrespeito e atraso demonstra bem como a ignorância nas vestes da submissão, obscuridade e misticismo sempre agiu contra o progresso de nossa própria civilização. Basta perceber o quão tacanha era e, ainda é em alguns casos, a percepção sobre a mulher em nossa sociedade. 

Fica tácito que a visão machista, antes de tudo egocêntrica, tem abordado a mulher como sendo um “homem defeituoso”, pois julga as características de menor força física, diversidade comportamental e diferente percepção do mundo como sendo desvantajosas. 

Creio que tal abordagem incorre, no mínimo, em dois imensos equívocos. O primeiro deles é a base de comparação. Ora, não há base de comparação, a mulher é um ser distinto, até extraterrestre em alguns sentidos. Como poderia ser comparada com um homem? 

O segundo grande equívoco é a crença pueril de que a diferença de percepção do mundo é uma desvantagem. Muito pelo contrário! É nas diferenças que reside a beleza das relações humanas. O que há realmente de belo é aquilo que se produz entre as individualidades na busca da comunicação, da compreensão, da admiração e, por fim, do encontro. 

A atriz Mary Anderson na peça "Hypatia" encenada no começo do século XX.

Ao menos no Dia Internacional das Mulheres é fundamental que reflexões sejam feitas, de modo que injustiças não sejam cometidas e somente a verdade seja privilegiada em qualquer abordagem. Me parece que a arte na forma da poesia dificilmente errou. Por isso fico com aquela que alude: “Misteriosa como a bruma e ilustre habitante dos sonhos / É emoldurada em humana forma, perfeita como nunca houvera / É a mulher agraciada com o perene sopro da primavera”.
 
Mulheres...vocês são realmente inspiradoras. A história mostra que não apenas as artes, mas a ciência também deve muito a vocês.
Postado por Guilherme às 22:57 2 comentários:
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Marcadores: dia internacional das mulheres; hypatia; biblioteca de alexandria; erathostenes; hyparchus; escola de filosofia neoplatônica; matemática; astrônoma;
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